quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Era feliz e não sabia

Estou, neste momento, na casa do meu tio, em Guarapuava - Paraná. Vim, com a minha avó, passar uns dias aqui com ele e a namorada... bom, como aqui a cidade é pequena e eu já conheço a porra toda, porque já vim aqui algumas outras vezes, o que me resta é dar uma passeada no Centro, ou ir ao mercado. Coisas bobas que ocupam no máximo umas 3 horas do meu dia (isso quando vou ao Centro, ando por lá e depois vou ao mercado)... a única coisa que me resta é ficar na internet. Pesquisando coisas sobre au pair. E ser indelicada com as pessoas que amo, porque estou nervosa e desesperada - sempre fico assim quando penso na minha vida, e que preciso fazer algo, que preciso estudar, mas sou lerda e burra demais, que preciso arranjar um emprego legal, etc - e não consigo me decidir sobre o que fazer, nem ninguém me ajuda... sei que sou chata, e que depois que voltei dos EUA estou mais chata ainda, mas... poxa. Não é culpa minha, ser chata. Eu queria ser legal, mas não consigo.

Enfim, sempre começo a escrever sobre uma coisa e acabo pulando pra outra... vim aqui comentar que estou pesquisando blogs e etc de meninas que já foram au pairs na Europa, e é engraçado como vejo que muitas delas (assim como já vi/conheço as dos EUA também) voltaram para o Brasil e a depressão pós intercâmbio - minha companheira inseparável há 1 ano - também as afeta! Não sei se fico feliz por não ser a única assim, ou se fico mais triste pelas outras meninas também... hahahah
Essa tristeza, esse desânimo, essa sensação de que não deveria estar aqui, de que não pertenço a este lugar, as memórias, as comparações... ai, ai. E é estranho pensar que voltei pro Brasil há um pouco mais de 1 ano, sabe? Até que passou rápido, mas a tristeza cadê que passa?

De vez em quando (bem de vez em quando mesmo, porque sempre fico mais nostálgica e tristinha) revejo algumas fotos e alguns vídeos da minha vida por lá, dos passeios, das bobagens... e tudo parece tão mais legal e feliz. Parece que Au Pairs são mais legais do que o resto das pessoas. Olha que absurdo, né? Mas estou sendo sincera, HAHAHAHAH! E o pior é que me sinto mal por não me sentir bem aqui no Brasil; não me sinto bem com a minha família (o que mais me faz ficar mal), não me sinto bem com os meus amigos, os finais de semana regados a coisas gordas e fofocas e reclamações com azamiga não são tão legais quanto os que tinha nos EUA, não consigo me conformar com os preços das coisas daqui... é tudo horroroso. Um conjunto de coisas horríveis e a sensação de mal estar, a todo o tempo. Nada me traz alegria, sabe? Sou finalista de 2 concursos de cosplay - coisa que nunca imaginei! -, ganhei alguns outros concursos "normais", mas não estou feliz, não consigo ficar feliz, não consigo me animar. Até pensar em desistir dessas finais eu já pensei...

Sinto que a minha vida lá valia a pena, mesmo passando por tudo que passei, todos os absurdos que vivi e ouvi, todas as coisas loucas e todo o desespero... os bons momentos faziam tudo valer a pena. Eu viajava (não muito, mas viajei), eu ia assistir musicais na Broadway. NA BROADWAY. BROADWAY! Aqui, nada parece ser legal, nada me agrada...

Minha avó que comenta comigo "se a gente vê problema em tudo, quer dizer que o problema está na gente" (ou algo parecido), e de vez em quando fala que devo ir num psicólogo... ok, de repente até dá jeito, mas e aí? Ficarei aqui no Brasil vivendo uma vidinha escrota? Nesse meu Rio de Janeiro quente, chato e meu conhecido por 22 anos? Não quero isso pra mim. Ou quero? Será que é melhor eu escolher "the smoothest course, steady as the beating drum? (...) Is all my dreaming at an end? Or do you still wait for me, dreamgiver, just around the riverbend?".

Enfim, vou parar com a tristeza aqui, porque sei que não é muito legal. hahahah é que, às vezes, preciso desabafar... fiquem com a música da Pocahontas que mais amo. Mentira, também amo Colors of the Wind, mas essa aí parece que foi feita pra mim! *Síndrome de adolescente idiota que se identifica com músicas* Não sou mais adolescente há sei lá quantos anos, mas continuo me identificando com músicas e I DON'T CARE WHAT THEY'RE GOING TO SAY! Damn it, outra música!


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O que sinto falta... versão gordo

Estou sem novidades e ainda com muita indecisão cercando a minha inútil vidinha... então não pretendia vir aqui tão cedo. Mas hoje, comendo cereal, me deu uma vontade de escrever sobre as comidas/gordices que sinto falta. I mean, voltei há pouco mais de um ano, e de vez em sempre me lembro das coisas boas de lá, assim como aconteceu hoje.
Muitas coisas de lá existem aqui também (inclusive, algumas coisas vieram pro Brasil "junto" comigo), mas não são exatamente iguais, sabe? Por exemplo: Nunca gostei do Kit-Kat daqui, mas de lá eu comia numa boa. Podem me chamar de maluca, mas é a verdade! hahahah

Bom, vamos lá...

- Cereais

Eu sou LOUCA por cereais, e os EUA são a terra dos cereais, né? Eu gostava de vários, mas esses eram os meus preferidos (não estão na ordem de preferência, porque amo todos da mesma forma! HAHAHAHAH):


Lucky Charms
Eles têm marshmallow e são TÃO DOCINHOS! *-* De vez em quando... ou melhor, raramente... a fofa comprava pras meninas, e elas acabavam que nem comiam muito... mas eu ia lá e atacava o cereal! GENTE, É MUITO DOCE E MUITO BOM!


Raisin Bran
 É celestial. Não sou muito fã de uva passa, mas no cereal... fica divino! Nossa, acho que foi o tipo de cereal que eu mais comprei lá. Não o que eu mais comi, mas o que eu mais comprei.


Honey Nut Cheerios
 Olha, os Cheerios por si só já são gostosos... mas esses Honey Nut são ainda melhores. Aquele gostinho suave de mel, com um "crunch, crunch" na hora que a gente mastiga... hahahah MUITO AMOR!


Esse aí do Trader Joe's (porque o nome é muito grande)
Ô coisa gostosa também! E tem vários sabores (o de canela é muito amor), mas esse era o meu preferido. Ele é meio nojento, mas é muito bom. Trader Joe's, sdds!



- Biscoitos

Eu sou naturalmente gorda, né, então é natural que eu goste de biscoitos. Hahahahahahah! Comprava aos montes!


White Fudge Oreo
 Do Oreo em si eu gostava (daqueles que são só uma parte do biscoito e o recheio também), mas nenhum supera esse aí, o WHITE FUDGE OREO. O BISCOITO DOS CÉUS. Eu devo ter comido uns 6 pacotes dele, SOZINHA. Sem brincadeira! Ele só é vendido na época perto do Natal, ou do Halloween... sei lá, por aí. Tanto que comprei pela primeira vez na época do furacão, que coincidiu com o Halloween... e logo um pouco antes do Ano Novo, não encontrei mais na Stop & Shop que costumava comprar.


Trader Joe's Fruit Bar
 Quem me conhece sabe que amo barrinhas de cereal. Mas lá nos EUA eu não costumava gostar muito delas... só que essas aí, nossa, eram muito gostosas! Tinham umas outras, de outra marca, que eu também gostava bastante, mas as do Trader Joe's... hmmm! Dá água na boca só de pensar. Olha essa aí de figo dizendo "vem cá, sua gorda, me coma! Eu sei que você me quer!".


Cookies Chips Ahoy!
 Dos vendidos no mercado, esse aí era o meu preferido. Principalmente o chunky. Ô coisa malditamente gostosa! Desse aí eu nem tenho noção de quantos pacotes gigantes eu comi! hahahah Era, pelo menos, 1 por semana. SIM, SOU GORDA!


Joe-Joe's
São quase um Oreo, só que menos gordurosos (eu acho) e mais saborosos. Ô, Trader Joe's, você é uma lojinha maldita, heim!



- Iogurtes

Eu detesto iogurte... nossa, é muito difícil eu comer algum. Claro, esses diferentes são bons, mas num geral, não consigo gostar. Só que lá, eu era apaixonada por dois:


 Yoplait's Thick and Creamy Vanilla yogurt
 Sim, necessariamente este. Os outros da Yoplait até que eram comíveis (pelo menos os que eles compravam lá em casa), mas esse... esse era uma maravilha! Ô coisinha maldita e gostosa!


Chobani Greek Yogurt
 CHOBANI, CHOBANI, CHOBANI, AAAAAAAAAAAAAAAAAH! Comia qualquer um, iogurte grego cheio de gordura maravilhoso, aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!



- Sorvetes

Sem contar com o McNulty's (a sorveteria que tinha próximo da minha casa), que vendia um Cookie Dough Ice Cream maravilhoso, comia outros também...


M&M's Ice Cream Sandwich
 Era meio estranho, mas muito bom! Hm, que vontade de comer um agora!


Häagen-Dazs e Ben&Jerry's
Acho os dois igualmente bons... alguns sabores prefiro do HD, mas outros do B&J, e outros são a mesma coisa. Tinha outra marca que eu costumava comprar também, mas esqueci...



- Coisas de "café da manha"

Bom, vou juntar alguns, ou eles ficariam meio perdidinhos em vários tópicos... são coisas que eles comiam tipicamente no café da manhã.


Waffes
 Seja com syrup, com peanut butter and jelly, com butter, com bacon... waffles são amor. Muito amor. MUITO AMOR MESMO!


Cream Cheese
 Não sei  você, mas os cream cheeses aqui do Brasil não me parecem tão gostosos quanto os de lá. Nem mesmo o Philadelphia, que era o que eu comia lá, é tão bom.


Peanut Butter
Tem gente que não gosta... mas eu amo. E comia pra caraaaaaaamba. Nossa, aquele pão de forma quentinho, recém saído da toaster, com um bocado de peanut butter em uma parte e jelly na outra... que maravilha! *-*



- Fast Food

Não sou muuuuito fã de fast food, mas posso dizer que gosto. Sinto falta do Subway (tenho nojo de comprar aqui no Brasil, me julguem), do Wendy's, do Five Guys e tal, mas esses aqui são as coisas que mais me trazem saudades:
Cinnamon Rolls
 Não sei  se eles se encaixam bem em "fast food", mas vão ficar aí mesmo! hahahah
São bolinhos celestiais, maravilhosos e indescritíveis. Tem uns que vendem no mercado e que são pra fazer em casa, mas os da loja são melhores, não tem jeito.


Sweet Tea
 Assim, ice tea é uma das 7 maravilhas do universo. E um ice tea a 1 DÓLAR, SIM, 1 MÍSERO DÓLAR... é a principal maravilha do universo. ICE TEA É UM AMOR MUITO AMOROSO!


Angus Mushroom & Swiss
Comi pela primeira vez com a Adelita (ela comprou um e me deu vontade e eu fui e comprei também), e, PQP, Ô COISA GOSTOSA! Nem tanto pelo hamburguer em si, mas o queijo e os mushrooms... hmmmm, que maravilha! E sem falar no preço, né? Comprava um sanduichão desse, mais uma porção de batatas fritas gigantes (não que eu pedisse a grande, é que lá elas são gigantes) e o refrigerante (OU ICE TEA AMOR) dava uns 7 dólares.




Ai, minha gente, tinha várias outras coisas também... como chocolates (M&Ms, Kit-Kat, Toblerone, Lindt, tudo num precinho bem camarada) e etc... no momento, são dessas que eu mais sinto falta, e se conseguisse todas na minha frente, as devoraria. *Gorda*

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Isso realmente aconteceu?

Bom, como eu já comentei anteriormente, começo a pensar em ser au pair em algum outro país... mas ao mesmo tempo tenho minhas dúvidas, afinal de contas, não é tão fácil assim. Mas vale a pena... ou será que não?
E fico nessa questão de "vai valer a pena ou não?", sem conseguir me decidir. Oh, desgraça. Posso dizer que nesse ano que passei nos EUA (eu realmente morei lá por 1 ano? Que estranho!), a coisa que mais aprendi sobre mim mesma é: sou muito indecisa. Não me orgulho disso, mas, infelizmente, sou. Quero mudar, quero mesmo!, mas as tentativas até agora foram em vão...

Mas, enfim, vim aqui comentar que, pelo fato de estar pensando em passar mais um ano sendo escravizada num país distante, vivendo coisas diferentes e tal, comecei minha já conhecida busca por blogs de meninas que foram/são au pairs na Europa, e lembrei de como é legal imaginar, sonhar, querer visitar esses lugares que vejo por foto, mas que não são da mesma forma quando realmente estamos lá. Quero dizer, é maravilhoso poder viajar e ver coisas que você nunca imaginou ver; vivenciar momentos únicos, rir de coisas bobas e se emocionar com coisas mais bobas ainda... mas, sei lá, às vezes parece que as coisas vistas por uma tela são mais interessantes. Ok, eu devo ter algum problema por pensar assim (oi, cinéfila retardada), mas... é como eu penso.

E a parte mais bizarra de todas é: quando não estou mais vivendo tal coisa, parece que tal coisa nunca aconteceu!

Eu realmente estive com essa cara de tomate num navio de guerra?
De vez em quando, quando me deitava em minha cama demasiadamente macia para dormir, antes de abrir um querido livro para ler antes de adormecer, alguns pensamentos vinham à minha mente, e eu tentava lembrar de como era a minha vida antes de ir para os EUA, e, por incrível que pareça, não conseguia me lembrar muito bem. Parecia uma lembrança muito distante, como se eu tivesse visto a minha vida toda num filme não muito legal que não me marcou em nada, há muitos anos, e tinha vagas lembranças de como ele tinha sido... e agora acontece o mesmo.
Outro dia fui reler algumas postagens minhas aqui neste blog, e percebi que não lembrava de muitas das coisas que escrevi! Tudo bem que tenho uma teoria de que quando eu conto/escrevo algo, aquela memória sai da minha cabeça junto, fazendo com que eu esqueça daquilo que falei/escrevi, mas é tão, tão estranho!

Ok, eu começo com uma coisa e vou embolando até chegar num ponto que eu nem pensava em dizer... mas, enfim, vou parar por aqui, ou começarei a ficar mais louca do que já sou.

Desde já, peço perdão pelo post sem noção - se é que alguém ainda venha aqui.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Suflê de chuchu

Por Luís Fernando Veríssimo

Houve uma grande comoção em casa com o primeiro telefonema da Duda, à pagar, de Paris. O primeiro telefonema desde que ela embarcara, mochila nas costas (a Duda, que em casa não levantava nem a sua roupa do chão!), na Varig, contra a vontade do pai e da mãe. Você nunca saiu de casa sozinha, minha filha! Você não sabe uma palavra de francês! Vou e pronto. E fora. E agora, depois de semanas de aflição, de "onde anda essa menina?", de "você não devia ter deixado, Eurico!", vinha o primeiro sinal de vida. Da Duda, de Paris.

- Minha filha...

- Não posso falar muito, mãe. Como é que se faz café?

- O quê?

- Café, café. Como é que se faz?

-Não sei, minha filha. Com água, com... Mas onde é que você está, Duda?

- Estou trabalhando de "au pair" num apartamento. Ih, não posso falar mais. Eles estão chegando. Depois eu ligo. Tchau!

O pai quis saber detalhes. Onde ela estava morando?

- Falou alguma coisa sobre "opér".

- Deve ser "ópera". O francês dela não melhorou...

Dias depois, outra ligação. Apressada como a primeira. A Duda queria saber como se mudava fralda. Por um momento, a mãe teve um pensamento louco. A Duda teve um filho de um francês! Não, que bobagem, não dava tempo. Por que você quer saber, minha filha?

- Rápido, mãe. A criança tá borrada!

Ninguém em casa podia imaginar a Duda trocando fraldas. Ela, que tinha nojo quando o irmão menor espirrava.

- Pobre criança... - comentou o pai.

Finalmente, um telefonema sem pressa da Duda. Os patrões tinham saído, o cagão estava dormindo, ela podia contar o que estava lhe acontecendo. "Au pair" era empregada, faz-tudo. E ela fazia tudo na casa. A princípio tivera alguma dificuldade com os aparelhos. Nunca notara antes, por exemplo, que o aspirador de pó precisava ser ligado numa tomada. Mas agora estava uma opér "formidable". E Duda enfatizara a pronúncia francesa. "Formida-ble". Os patrões a adoravam. E ela tinha prometido que na semana seguinte prepararia uma autêntica feijoada brasileira para eles e alguns amigos.

- Mas, Duda, você sabe fazer feijoada?

- Era sobre isso que eu queria falar com você, mãe. Pra começar, como é que se faz arroz?

A mãe mal pôde esperar o telefonema que a Duda lhe prometera, no dia seguinte ao da feijoada.

- Como foi, minha filha. Conta!

- Formidable! Um sucesso. Para o próximo jantar, vou preparar aquela sua moqueca.

- Pegue o peixe... - começou a mãe, animadíssima.

A moqueca também foi um sucesso. Duda contou que uma das amigas da sua patroa fora atrás dela, na cozinha, e cochichara uma proposta no seu ouvido: o dobro do que ela ganhava ali para ser opér na sua casa. Pelo menos fora isso que ela entendera. Mas Duda não pretendia deixar seus patrões. Eles eram uns amores. Iam ajudá-la a regularizar a sua situação na França. Daquele jeito, disse Duda a sua mãe, ela tão cedo não voltava ao Brasil.
É preciso compreender, portanto, o que se passava no coração da mãe quando a Duda telefonou para saber como era a sua receita de suflê de chuchu. Quase não usavam o chuchu na França, e a Duda dissera a seus patrões que suflê de chuchu era um prato típico brasileiro e sua receita era passada de geração a geração na floresta onde o chuchu, inclusive, era considerado afrodisíaco. Coração de mãe é um pouco como as Caraíbas. Ventos se cruzam, correntes se chocam, é uma área de tumultos naturais. A própria dona daquele coração não saberia descrever os vários impulsos que o percorreram no segundo que precedeu sua decisão de dar à filha a receita errada, a receita de um fracasso. De um lado o desejo de que a filha fizesse bonito e também - por que não admitir? -uma certa curiosidade com a repercussão do seu suflê de chuchu na terra, afinal, dos suflês, do outro o medo de que a filha nunca mais voltasse, que a Duda se consagrasse como a melhor opér da Europa e não voltasse nunca mais. Todo o destino num suflê. A mãe deu a receita errada. Com o coração apertado. Proporções grotescamente deformadas. A receita de uma bomba.

Passaram-se dias, semanas, sem uma notícia da Duda. A mãe imaginando o pior. Casais intoxicados. Jantar em Paris acaba no hospital. Brasileira presa. Prato selvagem enluta famílias, receita infernal atribuída à mãe de trabalhadora clandestina, Interpol mobilizada. Ou imaginando a chegada de Duda em casa, desiludida com sua aventura parisiense, sua carreira de opér encerrada sem glória, mas pronta para tentar outra vez o vestibular.
O que veio foi outro telefonema da Duda, um mês depois. Apressada de novo. No fundo, o som de bongôs e maracas.

- Mãe, pergunta pró pai como é a letra de Cubanacã! -Minha filha...

- Pergunta, é do tempo dele. Rápido que eu preciso pro meu número.

Também houve um certo conflito no coração do pai, quando ouviu a pergunta. Arrá, ela sempre fizera pouco do seu gosto musical e agora precisava dele. Mas o segundo impulso venceu:

- Diz pra essa menina voltar pra casa. JÁ!